Uma casa de madeira, grande e solitária. Afundada num chão de terra vermelha, presa ao porão-espaço vazio que a sustenta, sozinha naquela curva, ela se ergue. No coração de um bairro repleto de fantasmas esvoaçantes lembranças pairam sobre o enorme chalé que se encolhe em memórias esfumaçadas. A cozinha é colorida: fogão vermelho, geladeira azul, mesa amarela. Saturação de uma saudade monocromática. Uma larga escada leva ao sótão, degraus movediços seguram a subida de um estático caminhar a lugar algum. Na sala a grande porta com tramelas abertas está sempre fechada. Correr para a rua é sair de si, se perder em suas próprias memórias, rasgar a sanidade. Nunca se está nessa casa.
Este é um lugar estranho e intocável. Uma localidade vazia de pessoas e preenchida por vazios. Nas estradas de areia fina ainda encontro pegadas que poderiam ser minhas não fossem os mais de vinte anos passados. Tateando as ruínas que sobraram encontro janelas emperradas, quebradas e estilhaçadas. Rasgo e corto uma a uma, quero ver quem passa lá fora. Pulo a janela e caio na terra seca compactada pela a ausência de chuva. Flutuando em memórias quase lúcidas corro pela a ponte que embala os passantes. Chego num lugar transfigurado e recomeço…
Falar do espaço da casa é falar de si. É encontrar em cada gaveta, armário, pote e canto uma memória escondida que pode ser revivida incansavelmente através dos devaneios, como coloca Bachelard: “É justamente porque as lembranças das antigas moradias são revividas como devaneios que as moradias do passado são em nós imperecíveis”. “Francisca” fala sobre minha própria identidade, minhas lembranças e meu passado, mas ao mesmo tempo dialoga com a rememoração daqueles que encontram nos lugares da infância um refúgio para as angústias. Este projeto foi publicado em formato de fotolivro em 22 de dezembro de 2020, e agora, através desta exposição, procuro criar uma narrativa que dialoga diretamente com a inconsistência de nossas memórias guiadas principalmente pelo afeto e pela saudade.












Exposição contemplada pela Fundação Cultural de Itajaí